Páginas

segunda-feira, 26 de março de 2012

Falta de Educação?–Parte 2

Para quem já viu a primeira parte, e leu que nós que criamos e aplicamos o “código ético”, o que denomina que alguém seja educado ou não, o que cria o conceito de falta de educação, que faço este post. Disse que não era errado que houvesse convenções sociais, que criassem o “código de educação”. Acho que é fácil denominarmos a falta de educação partindo do pressuposto de que quem não segue as “leis”, não tem educação. É fácil, mas não é totalmente certo. Darei um exemplo.

Imaginem um país, não o nosso, um outro qualquer, com outra cultura. Imaginem que neste país, antes de comer, as pessoas tenham que cuspir no chão. Imaginem que qualquer um que não segue a tendência, é considerado mal educado. Isso quebra com o exemplo que dei no último post, sim.

Talvez você, que (como no exemplo do último post) considera cuspir no chão uma atitude de falta de respeito, de falta de educação, em um país com esse tipo de cultura, se daria mal. Teria que se adequar aos costumes e desconsiderar coisas que antes considerava como educação. Talvez você possa me dizer que é óbvio, que a educação, que o “código ético” é um para cada cultura.

Se é assim, então não existe um único código de educação, existam vários. E talvez não exista um sequer que esteja correto. Afinal, cada um tem uma disparidade enorme um para com o outro. Talvez, partindo desse pressuposto, não exista a melhor educação. Então como se pode considerar o outro como mal educado? Como podemos determinar o que é falta de educação?

Você pode me dizer que podemos dizer que é falta de educação determinada atitude, que não convenha com o código moral e ético, e que seja de alguém que esteja em nosso “habitat”. Isso porque eu disse que é cultural, e se alguém está em nosso habitat, é de nossa cultura. Certo? Errado. Aliás, para cada grupo, subgrupo, existe um conjunto de valores distinto. Pode-se em uma casa viver em uma família, por exemplo, e nesta existir um pai ateu, uma mãe judia e um filho punk. Qual seria a base necessária, o chão de cada um, para denominar que atitude de quem poderia ser caracterizada como falta de educação, se no mesmo habitat, todos têm opiniões e costumes diferentes?

O exemplo é um tanto exagerado, mas ilustra o que quero dizer, que cada pessoa tem um “código” diferente, então cada um tem sua educação, e não temos o poder nem o direito de determinar quem é ou não é educado. Acho que a única exceção possível é a que a maior falta de educação existe quando invadimos o espaço do outro.

Quando queremos impor nossas próprias regras, limitar, oprimir ou julgar o outro, aí sim há falta de educação, e a pior de todas. Falta de educação é prejudicar e insultar o outro, é não aceitar as diferenças como elas são, é achar que somos superiores e que podemos determinar o que é certo e errado. É com isso que devemos nos preocupar e não com os hábitos alheios.

Sinceramente, acho muito mais louvável uma pessoa que não sabe se portar quando come ou não agradece as coisas que recebe, do que alguém que cisma de dizer que tudo o que o outro está fazendo não está certo e que se habitua a julgar tudo e todos. Acho muito mais legal aquele pobre, mal vestido, que não discrimina ninguém, que aquele milionário racista, homofóbico, que julga as pessoas pelo status social.

Não quero promover a apatia, dizer que etiqueta não serve pra nada, que é pra todo muito começar a se emporcalhar por aí, mas quero lembrar que cada um é o que é, do jeito que é, e o que podemos fazer é ajudar. Mas toda ajuda só tem serventia quando não vem com julgamento, com desprezo. Somos todos diferentes, aceitemos isso!

Nenhum comentário:

Postar um comentário