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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Esforçar para simplificar

Não posso dizer que sempre, mas há muito tempo que reflito sobre a vida dos bebês. Há cerca de um ano, por meu priminho estar aqui em casa durante quase todos os dias, em todas as semanas, isso tem aumentado. Bebês são imprevisíveis, dão valor a coisas “insignificantes”, não se preocupam com o perigo, riem quando vocês os repreende e, não importa se você está cansado ou não, sempre pedem para que você os carregue no colo e os coloque “nas alturas”.

bebe-bom-de-bola-recordOntem eu vi uma cena incrível. Após o aniversário de um ano do meu primo, ele ganhou uma bola pequena, de pano. Ele não larga da bola até agora. Ele ri, joga a bola para o alto, a rola... E acha a coisa mais prazerosa e divertida do mundo. Acho que talvez é mesmo a coisa mais prazerosa do mundo: vê-lo rindo com coisas que nunca paramos pra perceber, ou dar valor.

Fico pensando no momento em que ele crescer mais um pouco, começar a se cansar das coisas facilmente, a perguntar sobre tudo, ter as suas respostas, deixar de perguntar, se acostumar com o mundo e começar a se cansar de tudo e todos. Enquanto isso não acontece, curto cada momento, cada riso, cada bola quicada, cada passo dado. E fico me perguntando: não seria mais fácil se nos esforçássemos mais para viver como eles?

Esforçar para simplificar, essa deve ser a solução. O que vejo de gente cansada da vida, das decepções, dos esforços em vão, das palavras não ditas, dos erros “irreparáveis”... Se simplificássemos mais a vida, seria tudo tão fácil. Se começarmos a perceber valor e utilidade nas coisas mais banais, se dermos valor aos momentos com nossos amigos e familiares, como se fossem os últimos momentos de nossa vida, tudo seria mais simples. Muitas vezes os problemas vêm porque nós complicamos tudo.

OLYMPUS DIGITAL CAMERAViver uma vida simples não é fácil, por isso digo que é preciso ter esforço. Afinal, fácil é ignorarmos, odiarmos, julgarmos, maltratarmos, discriminarmos... Amar, respeitar e aceitar é tarefa difícil. Mas vale a pena. Uma das únicas certezas que temos é a certeza da morte, como diz Epicuro. O mesmo filósofo diz que não devemos nos preocupar com isso, pois quando nos preocupamos com a morte, nós sofremos durante a espera, não durante o acontecimento. Viver honestamente, ter prazer e felicidade. Esse deve ser o melhor sentido para a vida.

O bebê consegue valorizar as coisas porque ele não as conhece, porque ele acha que tudo é uma surpresa, que tudo é novo. Nós não valorizamos porque já sabemos tudo, nada é novo, tudo é tedioso e chato. Com isso, ficamos ansiosos pelo novo, mesmo que o mais fútil o seja. Então, esperamos o novo produto, a nova moda, o novo conceito, e nos maravilhamos por segundos, para depois buscar outro algo novo.

A novidade é apenas uma questão de perspectiva, uma questão de como vemos as coisas. Tudo pode ser novo se começamos a dar outro sentido. O tédio acontece porque estamos cansados de ver as coisas como elas se apresentam e não sabemos como vermos de outro modo. E é simples. Basta apenas anularmos nossa visão e repensarmos a utilidade do que vemos. Um pôr-do-sol pode simbolizar refúgio ou fim do expediente do trabalho, uma comida deliciosa pode ser agradável ou apenas a necessidade de se comer logo porque se está com pressa, uma conversa com um amigo pode ser a chance de ouvir e falar coisas agradáveis ou apenas uma rotina.

Então, caro leitor, comece a tentar perceber que o que é tão banal pode não ser, e o que é importante, pode também não ser tão importante. Valorize mais pessoas que coisas, mais momentos que rotinas. E tente encontrar prazer em momentos que pareçam maçantes, aplicando um outro sentido a eles.

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